Retirado de http://www.revistapontocom.org.br/ponto-central/redes-sociais-na-escola
Escola e mídia. Duas instituições que estão cada vez mais próximas e, ao mesmo tempo, distantes. Embora não faltem teorias, estudos e cursos que defendam o trabalho conjunto entre elas, a interface não é das melhores. Muitas escolas ainda não sabem lidar com os meios de comunicação, cada vez mais presentes, influentes e ao alcance de crianças desde a Educação Infantil.
Em junho passado, mais um caso veio ao público. A estudante Jannah Nebbeling, 15 anos, aluna do Colégio PH, no Rio de Janeiro, diz ter sido coagida pela direção da escola por ter criado uma comunidade no Facebook para debater assuntos escolares e divulgar as respostas dos deveres de casa que valiam pontos. A página era acessada por cerca de 700 alunos. Para a estudante, uma ação normal. Para a escola, uma cola virtual.
O caso foi parar na polícia. A mãe da aluna processa a escola pela forma como a instituição conduziu o problema: suspendeu a aluna por cinco dias. A escola diz ter chamado o responsável de cada aluno que estava participando da comunidade para uma conversa particular, explicando que se tratava de uma cola indevida, um processo não pedagógico.
A revistapontocom conversou com especialistas nas áreas de tecnologia e educação para contribuir com o debate. Afinal, como é possível estabelecer uma interface criativa e construtiva entre a escola e, hoje, as redes sociais? Como eles avaliam o caso da aluna? Que pontos positivos é possível tirar deste caso?
Professor do Colégio Pedro II, Sérgio Lima afirma que a aluna fez um “uso pobre” das redes sociais. “As respostas dos deveres poderiam ter sido usadas para trocas de conhecimento entre os alunos, para que todos aprendessem mais sobre as questões. Pelo que entendi, as trocas tinham como único objetivo fraudar o sistema de notas da escola. Logo, um uso conservador e limitado das possibilidades ricas de aprendizagem que as redes sociais oportunizam”, destaca.
A ação da aluna, na visão do professor, pode ser considerada como resultado, como consequência, do conservador sistema de avaliação da escola, que, de certa forma, incentiva a necessidade dos alunos colarem. Para o professor, se as escolas continuarem funcionando e propondo atividades condizentes com os resquícios da sistematização da Era Industrial, essas contradições serão cada vez mais frequentes. “Se a escola mudar as formas de aprendizagem e avaliação, a cola poderá não fazer mais sentido”, avalia.
Segundo Sérgio, o episódio é um prato feito para as escolas que desejam continuar fechadas para o novo mundo tecnológico. Mas também é, ao mesmo tempo, uma ótima reflexão para as que querem, de fato, ampliar suas potencialidades e limites. “As escolas que querem uma desculpa para continuarem no século XIX poderão tomar este episódio como argumento a favor de seu neoludismo – uma ideologia que se opõem às novas tecnologias. Já as escolas que sabem que os desafios para se educar no nosso atual contexto informacional são enormes tomarão este episódio como um convite para a reflexão”.
Tarefa nada fácil. Afirma a professora Camila Lima Santana, do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do IF Baiano. Ela reconhece a dificuldade, pois as escolas estão enraizadas em práticas lineares, segmentadas. E tudo que possibilite uma abertura, uma novidade, um caminho em que não se saiba trilhar, dá medo. Mas é preciso rever, refletir. “E reconhecer esses espaços digitais para além do ócio e das inutilidades. É fundamental pensar esses espaços de redes sociais na internet como locus de informação, de troca de saberes e aprendizagem”, conta.
Na avaliação de Camila, deixar de lado as tecnologias e, mais especificamente as redes sociais, não é uma boa estratégia. Afinal, as tecnologias são um elemento forte e contundente da atual cultura contemporânea. As redes sociais, assim como as clássicas instituições, por exemplo a própria escola, também favorecem a interação e a constituição de conhecimentos e valores. Portanto, afirma a professora, devem ser, pelo menos, objeto de discussão na escola.
“É preciso olhar para o que está disponível na rede e apropriar-se da lógica desta rede para poder tanto direcionar práticas pedagógicas quanto incentivar o diálogo com esses espaços, pois neles circulam informações, saberes e experiências, elementos fundamentais para o processo educativo. É preciso aliar essa dinâmica à práxis, compreendê-la, debatê-la e abrir as portas da escola para o mundo que a internet representa”, afirma.
Mestre em Educação e Contemporaneidade pela Universidade do Estado da Bahia (Uneb), Camila destaca ainda: as redes sociais são espaços de interação. De interação humana. “Os sites de redes sociais não são culpados nem por atos de violências, nem agressão, nem colas, nem nada. Os sujeitos que agem dessa maneira na rede, agem em outros espaços. O que a internet permite é que essas práticas sejam divulgadas e atinjam maior número de pessoas. Somos nós, humanos, que fazemos os espaços serem o que são e terem as utilidades que desejamos”.
Andrea Ramal faz coro às observações de Camila. E vai mais além. Segundo ela, especialista em novas tecnologias, a internet não é um material didático pronto. É preciso que o uso de qualquer recurso, inclusive das redes sociais, com finalidades educacionais, seja fundamentado por um projeto pedagógico consistente. Para Andrea, o limite começa a existir quando as redes sociais, em vez de servirem para o desenvolvimento das pessoas e o crescimento dos estudantes, por meio do compartilhamento de conhecimentos e da comunicação intersubjetiva, começam a serem usadas com finalidades que ferem a ética. Na avaliação da especialista, cabe aos educadores – na escola e na família – orientarem os estudantes neste sentido.
“As redes sociais potencializam as atividades que se realizam em grupo, pois por meio delas os alunos podem se relacionar com outras pessoas. Pode haver produção coletiva de conhecimento, numa espécie de rede cooperativa de aprendizagem. Acredito que as redes sociais vão ajudar a fazer da sala de aula um ambiente mais interativo e dialógico, pois o modelo unidirecional da comunicação, no qual o professor fala e o aluno ouve, será substituído pelo modelo das redes em que todos os sujeitos têm vez e voz”.
Então as escolas que usam as redes sociais no ensino estão a um passo à frente das que não usam? Para Andrea, estas escolas provavelmente estão educando os alunos para conviver com naturalidade e consciência no mundo digital. “Escolas que ainda não usam precisam ficar atentas: podem estar educando os alunos ainda na lógica do papel e da caneta, da comunicação bidirecional, dos conhecimentos lineares. Mas as que usam devem ficar atentas: o uso de redes sociais na educação depende, sim, de um planejamento pedagógico consistente”, pondera Andrea Ramal.
Sou professora de Informática Educativa, mãe e preta. Aqui divido um pouco do que sei, do que sou, do que tenho como contribuição para educação na cibercultura.
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